Posso não concordar com nenhuma das tuas palavras, mas defenderei até a morte o teu direito de dizê-las. (Voltaire)

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sábado, 5 de abril de 2008

Avaliação Diagnóstica

Há poucos anos, nós docentes da disciplina de matemática reclamávamos que os alunos que recebemos no ensino médio não sabiam sequer multiplicar. Como era de se esperar, a situação se agravou um pouco mais: a dificuldade agora também está em somar e subtrair. Na avaliação diagnóstica, além de encontrar várias bolinhas ou tracinhos para auxiliar nas multiplicações, deparei-me com resultados como os seguintes:

Perceba a dificuldade do aluno em raciocinar uma lógica simples do dia-a-dia (algo como "tenho vinte reais e devo pagar uma dívida de 18, logo fico com dois reais sobrando"). Na falta dela, o método foi impreciso, demonstrando que seu objetivo e sua justificativa não foram bem compreendidos. Devo frisar, antes de tudo, que não culpo (inteiramente) o aluno que erra dessa forma. Sempre os questiono sobre seu ritmo e horários de estudo em casa e, como a esmagadora maioria confessa esforçar-se pouco no estudo fora da escola, aponto-lhes o problema que criam com isso e a solução.

A ponderação que quero levantar está focada no professor, na equipe pedagógica e no sistema de ensino, tríade que, penso eu, permite que o discente atravesse todo o ensino fundamental atropelando essas deficiências.
  • O professor tem a responsabilidade de recuperar o aluno que está com dificuldades de aprendizagem, certo? O que noto, porém, é o quase que total fracasso da atividade de muitos colegas, que aprovam sem qualidade (como se estatísticas de aprovação tivessem algum significado para a vida do aluno pós-ensino médio). Não escondo de meus alunos que na matemática, para fixar os conceitos, requer-se muita repetição, e com esta elevado esforço. Se o professor não consegue trazer a tona essa dedicação do aluno, que divida essa tarefa com a família, que passou a olhar a escola como creche. O fato é que algo deve ser feito, providências devem ser tomadas para que o egresso do ensino médio tenha chances reais de competir nos processos seletivos;
  • Se o trabalho do professor vai mal, padece sem acompanhamento. Por que, se cada escola tem sua equipe pedagógica, cuja função é dar suporte à prática docente? Como já citei em uma postagem anterior, é preciso deixar um pouco de lado os recortes, as ornamentações e decorações (costume esse que estigmatiza mal os cursos de pedagogia), e partir para a criação de estratégias que auxiliem o professor, que munido do domínio de conteúdo obtido pela sua formação contará também com o apoio didático fundamental para que seu aluno saia beneficiado com uma educação de qualidade;
  • Quando se cria programas supletivos nos ensinos fundamental e médio, melhor seria se estivessem ligados, um dando seqüência ao outro. Sugiro isso, pois os dois atuais (PORONGA e PEEM), em suas justificativas, relatam ter métodos próprios de ensino-aprendizagem diferenciados dos procedimentos do ensino regular. Logo, um aluno egresso do PORONGA (ensino fundamental) deveria ingressar no PEEM (ensino médio) para manter o ritmo e não haver choques de aprendizagem. As respostas da operação de subtração citada acima são de alunos do 1º ano do ensino médio oriundos do PORONGA. Não critico o programa, pois não conheço totalmente seus fundamentos (apenas o de concluir o ensino fundamental em tempo reduzido), apenas observo seus frutos. Se os responsáveis por nosso sistema de ensino enxergam sucesso nisso, amém, fazer o quê? Poderiam, contudo, respeitar o ritmo de aprendizagem desses alunos e fazer com que sua matrícula no ensino médio esteja vinculada exclusivamente ao PEEM. Ficaria inclusive mais óbvio o sucesso dos programas de aceleração e do ensino regular.


Enquanto docentes de matemática para o ensino médio, meus colegas e eu atendemos nossos alunos com dificuldades em conteúdos básicos em uma aula de reforço semanal, para prepará-los para os conteúdos que virão. Para mensurar os resultados dessa iniciativa, temos uma ficha individual para acompanhar os avanços de cada aluno, ao longo do semestre. Adaptamos o plano de curso para trabalhar os conteúdos de acordo com o ritmo observado na avaliação diagnóstica. Faremos o atendimento (aulas para alunos interessados) para a 4ª Olimpíada de Matemática nas Escolas Públicas. Tudo isso para tentar dar ao discente o mínimo de maturidade cognitiva que deveria ter a essa altura, se tivesse sido cobrado mais no decorrer de sua vida estudantil.


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