Há poucos anos, nós docentes da disciplina de matemática reclamávamos que os alunos que recebemos no ensino médio não sabiam sequer multiplicar. Como era de se esperar, a situação se agravou um pouco mais: a dificuldade agora também está em somar e subtrair. Na avaliação diagnóstica, além de encontrar várias bolinhas ou tracinhos para auxiliar nas multiplicações, deparei-me com resultados como os seguintes:
Perceba a dificuldade do aluno em raciocinar uma lógica simples do dia-a-dia (algo como "tenho vinte reais e devo pagar uma dívida de 18, logo fico com dois reais sobrando"). Na falta dela, o método foi impreciso, demonstrando que seu objetivo e sua justificativa não foram bem compreendidos. Devo frisar, antes de tudo, que não culpo (inteiramente) o aluno que erra dessa forma. Sempre os questiono sobre seu ritmo e horários de estudo em casa e, como a esmagadora maioria confessa esforçar-se pouco no estudo fora da escola, aponto-lhes o problema que criam com isso e a solução.
A ponderação que quero levantar está focada no professor, na equipe pedagógica e no sistema de ensino, tríade que, penso eu, permite que o discente atravesse todo o ensino fundamental atropelando essas deficiências.- O professor tem a responsabilidade de recuperar o aluno que está com dificuldades de aprendizagem, certo? O que noto, porém, é o quase que total fracasso da atividade de muitos colegas, que aprovam sem qualidade (como se estatísticas de aprovação tivessem algum significado para a vida do aluno pós-ensino médio). Não escondo de meus alunos que na matemática, para fixar os conceitos, requer-se muita repetição, e com esta elevado esforço. Se o professor não consegue trazer a tona essa dedicação do aluno, que divida essa tarefa com a família, que passou a olhar a escola como creche. O fato é que algo deve ser feito, providências devem ser tomadas para que o egresso do ensino médio tenha chances reais de competir nos processos seletivos;
- Se o trabalho do professor vai mal, padece sem acompanhamento. Por que, se cada escola tem sua equipe pedagógica, cuja função é dar suporte à prática docente? Como já citei em uma postagem anterior, é preciso deixar um pouco de lado os recortes, as ornamentações e decorações (costume esse que estigmatiza mal os cursos de pedagogia), e partir para a criação de estratégias que auxiliem o professor, que munido do domínio de conteúdo obtido pela sua formação contará também com o apoio didático fundamental para que seu aluno saia beneficiado com uma educação de qualidade;
- Quando se cria programas supletivos nos ensinos fundamental e médio, melhor seria se estivessem ligados, um dando seqüência ao outro. Sugiro isso, pois os dois atuais (PORONGA e PEEM), em suas justificativas, relatam ter métodos próprios de ensino-aprendizagem diferenciados dos procedimentos do ensino regular. Logo, um aluno egresso do PORONGA (ensino fundamental) deveria ingressar no PEEM (ensino médio) para manter o ritmo e não haver choques de aprendizagem. As respostas da operação de subtração citada acima são de alunos do 1º ano do ensino médio oriundos do PORONGA. Não critico o programa, pois não conheço totalmente seus fundamentos (apenas o de concluir o ensino fundamental em tempo reduzido), apenas observo seus frutos. Se os responsáveis por nosso sistema de ensino enxergam sucesso nisso, amém, fazer o quê? Poderiam, contudo, respeitar o ritmo de aprendizagem desses alunos e fazer com que sua matrícula no ensino médio esteja vinculada exclusivamente ao PEEM. Ficaria inclusive mais óbvio o sucesso dos programas de aceleração e do ensino regular.
Enquanto docentes de matemática para o ensino médio, meus colegas e eu atendemos nossos alunos com dificuldades em conteúdos básicos em uma aula de reforço semanal, para prepará-los para os conteúdos que virão. Para mensurar os resultados dessa iniciativa, temos uma ficha individual para acompanhar os avanços de cada aluno, ao longo do semestre. Adaptamos o plano de curso para trabalhar os conteúdos de acordo com o ritmo observado na avaliação diagnóstica. Faremos o atendimento (aulas para alunos interessados) para a 4ª Olimpíada de Matemática nas Escolas Públicas. Tudo isso para tentar dar ao discente o mínimo de maturidade cognitiva que deveria ter a essa altura, se tivesse sido cobrado mais no decorrer de sua vida estudantil.